
O exame prático para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é, para muitas pessoas, uma etapa carregada de tensão e ansiedade. Mesmo após horas de prática, familiaridade com o veículo e conhecimento das regras de trânsito, é comum que quem está se preparando para a prova sinta sintomas intensos de estresse, bloqueios cognitivos e até reações físicas incapacitantes no momento da avaliação.
Esse medo é legítimo e compreensível. Longe de representar fraqueza, ele reflete o modo como o cérebro interpreta o contexto do exame: como um momento de risco ou exposição. Este artigo apresenta estratégias baseadas na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e na prática de mindfulness (atenção plena), que podem ajudar a pessoa a conduzir esse momento com mais presença, segurança e regulação emocional. É importante destacar que não é sobre fugir ou lutar para não sentir ansiedade. É sobre aceitar, buscar autoconhecimento e lidar com ela.
1. Elabore uma “receita de bolo” para o exame
Uma técnica bastante útil da TCC é criar um roteiro simples e estruturado com as etapas do exame, uma espécie de “receita de bolo” que organiza mentalmente as ações necessárias e evita que a ansiedade tome conta do pensamento.
Essa sequência pode incluir tudo que foi aprendido nas aulas de direção, por exemplo:
- Ajustar banco e espelhos
- Verificar se as portas do carro estão fechadas corretamente
- Colocar o cinto de segurança
- Ligar o carro
- Soltar o freio de mão
- Engatar a marcha correta
- Observar os retrovisores
- Iniciar a saída com seta
Repetir mentalmente essa “receita” no momento do exame ajuda a manter o foco no que precisa ser feito, desviando a atenção dos pensamentos automáticos negativos. É uma maneira de se ancorar na ação, não na preocupação.
2. Técnica de ancoragem: observe o ambiente ao seu redor
Um exercício simples e eficaz para interromper pensamentos ansiosos é direcionar a atenção aos sentidos e ao momento presente. Antes do início do exame (ou até mesmo sentado no carro), quando perceber que pensamentos disfuncionais estão surgindo e gerando sensações de ansiedade, a pessoa pode:
- Observar e nomear mentalmente cinco objetos ao redor (ex.: placa, poste, árvore, carro branco, faixa no chão)
- Identificar duas ou três cores predominantes no ambiente
- Notar os sons presentes (vento, passos, vozes, buzina)
- Sentir o apoio do corpo no banco, os pés no chão ou as mãos no volante
Essa prática ajuda a sair da “cabeça” e entrar no momento presente, algo que o mindfulness também promove de forma constante. Quando estamos ancorados no agora, temos mais clareza e controle.
3. Reestruture pensamentos disfuncionais com a TCC
Quem vai fazer o exame prático costuma enfrentar pensamentos automáticos negativos e distorcidos. A TCC propõe que essas ideias sejam identificadas, desafiadas e substituídas por interpretações mais realistas.
Exemplo:
Pensamento disfuncional: “Se eu reprovar, é porque não sou bom o suficiente”
Reestruturação: “Muitas pessoas reprovam e depois passam. Isso não define minha capacidade. É parte do processo de aprendizado”
Esse trabalho pode ser feito nos dias anteriores ao exame por escrito, e também mentalmente momentos antes da avaliação. Treinar esse diálogo interno pode fazer toda a diferença.
4. Leitura mental: um truque comum da ansiedade
Durante o exame prático, é muito comum a pessoa acreditar que sabe o que os outros estão pensando, principalmente o examinador ou as pessoas ao redor. Esse fenômeno é chamado de leitura mental e é uma distorção cognitiva frequente em situações de avaliação.
Pensamentos como:
“O examinador não gostou de mim”
“Ele já está achando que vou reprovar”
“As pessoas que estão ali estão me observando e me julgando”... são suposições sem base objetiva. A TCC ensina que pensar não é o mesmo que saber. Só porque um pensamento surgiu, não significa que ele seja verdadeiro. Na dúvida, a pergunta que ajuda é:
“Eu tenho evidências concretas disso, ou estou apenas supondo com base no meu medo?”
Um recurso bem-humorado pode ajudar a quebrar esse padrão: ao olhar para as pessoas ao redor, diga mentalmente algo como:
“Está todo mundo pensando na capivara comendo paçoca”
Essa frase divertida cria uma quebra de padrão e ajuda a lembrar que as outras pessoas também estão ocupadas com seus próprios pensamentos, medos e expectativas, e provavelmente não estão focadas em você.
5. Pratique a autocompaixão
Por fim, é importante lembrar que cometer erros, sentir medo e até reprovar são experiências humanas. Tratar-se com compaixão nesse processo pode ser mais produtivo do que manter um padrão rígido de exigência.
Uma frase útil nesse momento pode ser:
“É normal estar nervoso. Estou aqui para aprender e crescer. Estou fazendo o meu melhor”
A autocompaixão, longe de ser passividade, é uma força emocional que sustenta a persistência com gentileza.
Considerações Finais
O medo do exame prático de direção pode ser uma experiência emocional intensa, mas é possível enfrentá-lo com recursos e estratégias eficazes. A Terapia Cognitivo-Comportamental oferece ferramentas objetivas para lidar com pensamentos distorcidos, enquanto o mindfulness ajuda a cultivar presença, foco e calma. A pessoa não precisa eliminar o medo para realizar o exame, ela precisa aprender a conviver com ele, sem se deixar dominar. E isso é possível, com treino, apoio e auto compreensão.