A fobia de dirigir é uma condição que pode trazer diversos prejuízos e pode variar em gravidade, indo desde um desconforto moderado até uma incapacidade completa de dirigir. Pode limitar a mobilidade, impactar no trabalho, causar dependência ou ainda gerar estresse e comorbidades psicológicas. Durante o processo de aceitação desta condição e superação do medo, é comum que ocorram estratégias compensatórias para fugir da situação, que trazem um alívio a curto prazo dos desconfortos ocasionados pela ansiedade de pensar em controlar um veículo. Essas estratégias fazem parte de um repertório do ciclo ansioso, onde evitar a situação parece a melhor opção no momento.
Funciona como uma espécie de autossabotagem, que confirma pensamentos negativos e crenças acerca da direção, como a de se cobrar excessivamente, de não poder errar ou de não ser capaz. A autossabotagem refere-se a padrões de pensamento e comportamento que minam a capacidade do indivíduo de lidar eficazmente com a ansiedade e superar o medo.
Essas estratégias podem incluir exemplos como: “é mais saudável caminhar ou andar de bicicleta”; “meu companheiro adora me levar aos lugares”; “já deixei o carro morrer, a direção não é para mim”, entre outros vários planos que os pensamentos ativam para que o indivíduo permaneça na zona de conforto e que sugerem certa veracidade momentânea.
Uma situação que ocorre com frequência e que pode ser compreendida como autossabotagem é a escolha do veículo. No caso da pessoa ter disponível apenas carros maiores, como SUVS (Sport Utility Vehicle) ou caminhonetes, é comum que ela pense em desistir do processo de superação do medo, pois veículos grandes tendem a gerar a sensação de insegurança. Acreditam que automóveis maiores tendem a ter dimensões diferentes e que isso pode ser intimidante, que exige capacidades ilusórias.
Essas crenças surgem de pensamentos disfuncionais que contribuem para a ansiedade e o medo. Nessa perspectiva, a abordagem da Terapia cognitivo-comportamental pode auxiliar com técnicas que modificam os padrões de funcionamento do indivíduo e levam à exposição gradual da situação. Uma delas, é a reestruturação desses pensamentos disfuncionais, que são examinados criticamente por meio de questionamentos e validações, buscando evidências objetivas que os contradigam. A seguir seguem alguns exemplos de pensamentos negativos comuns e maneiras de reestruturá-los de forma prática, caso haja necessidade ou desejo de dirigir carros maiores:
• Pensamento disfuncional: "Eu nunca serei capaz de controlar uma caminhonete. É muito grande e pesada."
Reestruturação: "Com o tempo e a prática, posso aprender a controlar uma caminhonete adequadamente. Muitos motoristas conseguem fazer isso com sucesso."
• Pensamento disfuncional: "As pessoas vão me julgar se eu cometer um erro ao dirigir uma caminhonete."
Reestruturação: "A maioria das pessoas está focada em sua própria condução e não presta muita atenção aos outros. Além disso, com a prática, vou melhorar e cometer menos erros."
• Pensamento disfuncional: "Dirigir uma caminhonete é perigoso, e eu vou acabar em um acidente."
Reestruturação: "Qualquer tipo de condução envolve riscos, mas com educação, precaução e habilidades aprimoradas, posso reduzir significativamente as chances de acidentes."
• Pensamento disfuncional: “Não vou poder dirigir enquanto não tiver um veículo menor e mais adequado”.
Reestruturação: “Os procedimentos para a direção e a forma como vou conduzir é a mesma, independente do tamanho do carro. Então, posso conquistar minha superação em qualquer veículo”.